terça-feira, 26 de abril de 2016

O perfil da lâmina - alguns tipos mais comuns

Olá!

Olhe esse desenho:

Ele mostra os perfis mais comuns de lâminas. Não apenas facas, mas espadas e machados também.

Vamos analisar cada um:

Scandi:  Desbaste em "V", começa geralmente no meio da lâmina. Muito comum nos países nórdicos. A escandinava puukko é um exemplo clássico desse perfil. Foi pensada para  resistir ao uso pesado sem danificar. Perfil bastante comum em facas táticas. Muito útil para sobrevivência, corta bem a madeira e serve para entalhar também. Fácil de afiar.

Hollow: Apresenta um desbaste côncavo. Afiada ao extremo, é muito comum em navalhas. O fio é delicado e exige constante manutenção, mas é muito popular.

High Flat: Permite uma boa afiação e mantêm uma parte grossa perto da espinha para garantir maior resistência. Quando nova, oferece um ótimo fio, mas, com o uso, fica difícil de mantê-lo bem afiado.

Full Flat: A melhor solução de compromisso entre afiação e robustez. É o formato mais comum em facas e fácil de fazer manualmente. Após anos de uso e reafiação, a lâmina nunca fica tão grossa que não possa ser novamente afiada.

Full Convex: O desbaste convexo favorece a força e não o corte afiado. Muito comum em machados, exige material bem mais grosso para ser feito.

Além desses tipos, temos o Double Bevel, ou duplo fio, muito comum em facas de cozinha ocidentais e em espadas orientais, como a katana. O formato de cinzel - Chisel grind - como o das talhadeiras e facas de culinária japonesas, além de uma mistura de todos os tipos para operações especializadas.

O mais importante é entender os pontos fortes e fracos de cada um, para fazer uma faca adequada à função que queremos que ela desempenhe. Se fazemos uma faca para filetar peixe, precisamos de um fio aguçado, mas se vamos cortar madeira precisamos de uma faca resistente. Usar uma bowie para fazer a barba é coisa de cinema. Na vida real, isso não é nada funcional e bastante perigoso!

Um abraço.



terça-feira, 19 de abril de 2016

A faca de sobrevivência ideal

Tenho muitos amigos e conhecidos que gostam de atividades mateiras e sempre pedem facas adequadas a essas atividades. As facas de bushcraft, como são chamadas, são feitas para ambientes hostis, onde o importante é obter as coisas básicas para a sobrevivência: abrigo, comida, água e fogo. Nesse contexto, uma boa faca de sobrevivência é essencial. Praticamente todos os participantes  dos "reality shows" atuais que usam o tema (um dos mais badalados atualmente é o programa ALONE (Sozinhos) do History Channel) levam uma boa faca consigo. Mas, o que é considerado "uma boa faca" em termos de sobrevivência?
Para responder essa pergunta, fiz uma tradução de um poster em inglês muito legal que achei no Pinterest.

Critérios Gerais

1- Comprimento da lâmina: 10 a 15 cm (23 a 28 cm total)
2- Cabo e pomo sólidos (sem compartimentos ocos que podem apresentar fraturas)
3- Cabo confortável e que não deslize (escorregue)
4- Lâmina fixa - não dobrável. Nem canivete ou multi-ferramenta
5- Ponta afiada - ignore pontas angulosas, redondas, retas ou em formato de gancho
6- Fio simples (ao contrário das adagas), desbaste full flat, espinha a 90º
7- Espessura da lâmina: 4mm a 6mm no ponto mais fino e 5mm a 7mm no mais grosso

Explicando:

1- Comprimento: adequado para tarefas mais delicadas, como fabricação de armadilhas, e também mais pesadas, como cortar madeira pra sua fogueira
2- O pomo deve servir para dar pequenas pancadas e como martelo de uso leve. Se for oco, vai dar problema
3- O cabo deve ser confortável para longos períodos de uso e seguro, para não provocar ferimentos - cabos polidos demais escorregam
4- Juntas (uniões) de qualquer tipo representam pontos fracos que podem quebrar. Por isso, sempre é melhor uma lâmina fixa, de preferência full tang
5- Ponta afiada (sim, tem facas cujas pontas não são afiadas), é o melhor formato para defesa, pois serve para perfurar, além de cortar
6- Evite o fio duplo, que tem maior dificuldade de fatiar blocos grossos de madeira para fazer lenha, por exemplo, e opte por uma espinha reta (90º) funciona como raspador para sua pederneira
7- Uma lâmina deve ser grossa o suficiente para suportar tarefas como cortar madeira ou caçar. Se for fina e flexível, quebra mais facilmente

FULL TANG

Tenha certeza que a construção da faca é FULL TANG. Facas que usam espiga escondida (narrow, hidden tang) tem mais chances de quebrar. Mesmo que o cabo de uma faca full tang quebre, basta envolver o que sobrou com paracord e continuar usando.

EVITE FRESCURAS

Você quer uma faca de sobrevivência, não uma utilitária ou decorativa. Mesmo facas baratas incluem diversos "embelezamentos" para ajudar a vender. Algumas frescuras a serem evitadas:

1- Cabo oco, para guardar coisas. Isso quebra;
2- Insertos no cabo, como bússolas: quebra;
3- Lâminas espelhadas: costumam esconder aços de qualidade inferior. Sempre saiba qual o aço da sua faca

O TIPO DE AÇO É IMPORTANTE

Aço carbono ou inox? Ambos tem características diferentes e a escolha depende das suas preferências ou necessidades. O aço carbono mantém o fio por mais tempo que o inox - bem mais. Se você tem poucos recursos para afiação, prefira o aço carbono. O inox é, bem, inox. Enferruja muito pouco. Se você vai molhar muito sua faca e não tem como secar, o inox é uma boa opção.

Aços recomendados:
  • Carbono: A2, D2, O1, 1095, 5160 (o imortal!)
  • Inox: CPM 154, S60V, BG-42, S90V, CPM S30V, N690 (recomendação minha)
Não esqueça da sua bainha. É a melhor proteção para sua faca e um verdadeiro "cinto de utilidades". Não esqueça de fazer furações para mantê-la próxima ao corpo, passada no cinto, amarrada na perna, etc. A imagem sugere um padrão bastante usado hoje em dia, com bolsa extra para carregar linha, anzóis, pederneira, etc.


A FERRAMENTA DE SOBREVIVÊNCIA MAIS IMPORTANTE DE TODAS:

Conhecimento. A melhor faca de sobrevivência do mundo será inútil se você não souber como usá-la. ESTEJA PREPARADO!


Todos os créditos estão na imagem. Tradução livre, feita por mim: Julio Bittner.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Falando de Inox

Bom dia.

O aço inoxidável ainda é um mistério para muitos cuteleiros. As indústrias nacionais produzem muito pouca variedade e, principalmente, quase nada útil em cutelaria.

Isso fez do AISI 420 (VC150) - um aço medíocre, pra falar o mínimo - a escolha geral para facas culinárias e instrumentos cirúrgicos. O famoso 440c deixou de ser produzido no Brasil, restando apenas a importação.

Recentemente, surgiu a possibilidade de adquirir o N690, da Bohler. Importado, sai bem caro com o dólar atual, mas é um excelente aço, relativamente fácil de tratar termicamente.

Uma das dúvidas mais comuns sobre inox é qual deles pode ser temperado. A maioria quer temperar os da série 300 (304, 312) mas isso não é possível. No material anexo, dá pra entender o por quê.

https://drive.google.com/folderview?id=0Bx_fGFdFlUpFWEYzZWVJdzhzTmc&usp=sharing

Faca em inox N690.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Sobre Aços em Geral

Bom dia!

Esta postagem é para compartilhar vários materiais sobre aços. Todos são de domínio público e devem ser compartilhados.
Eles contêm muitas informações importantes para tornar sólida a formação do cuteleiro. Muitos conceitos básicos e alguns nem tanto, muitos dados dos próprios fabricantes, que servem de guia na hora de escolher o aço e fazer o tratamento térmico apropriado.

Leia, compartilhe e guarde para futura referência.

https://drive.google.com/folderview?id=0Bx_fGFdFlUpFVndZZTBaNkdkejQ&usp=sharing


terça-feira, 5 de abril de 2016

Fornecedores - parte 2

Bom dia!

Seguem mais alguns fornecedores de materiais para cutelaria e trabalhos em couro, pois quem faz faca, faz bainha também. Se vocês souberem de alguma fonte boa, deixem nos comentários!

Tubos e tarugos de latão, alpaca, cobre, bronze e aço inox para pinos, passadores e guardas:
http://www.metalaco.com.br/metais.html

Bronze, latão e outros metais: Metalmar - (31)3271-0344 - Não tem site - loja em Belo Horizonte/MG

Loja do Cuteleiro - aço, madeira, pinos, chifre de cervo, blanks forjados, parafusos loveless, pino mosaico. http://lojadocuteleiro.loja2.com.br/

Cola epoxi bicomponente, 24h, 8 minuntos, etc. http://www.redelease.com.br/lojavirtual/
Inclusive, eu uso essa aqui: http://www.redelease.com.br/lojavirtual/produtos/resinas/epoxi/super-cola-epoxi-secagem-rapida-8-minutos.html

Tudo para cuteleiros, Sérgio Natal Ricci (Tio Ricci). Fale com ele pelo Facebook: https://www.facebook.com/sergionatal.ricci

Acre Caxias: lixas e abrasivos em geral - http://www.acrecaxias.com.br/
A Andrea Borges - Acre Caxias (andrea.borges@acrecaxias.com.br) costuma atender os cuteleiros.

Lixas, lixadeiras, abrasivos, guias de lima: http://www.dafabrasivos.com.br/cutelaria.php
Contato: Katarina Arruda. Tem Whatsapp: (11)94714-3285

Lixadeiras, fornos de temperatura controlada e guias de lima: https://www.facebook.com/guajuviraequipamentos
Contato: Alexandre Benchimol

Loja do Provolone - materiais para cuteleiros: http://provolone.loja2.com.br/

Lixadeiras KMJet : https://www.facebook.com/GleydeKMJET
Contato: Gleyde - ótimo atendimento

Por enquanto, é só pessoal!

Abraço.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Minha primeira faca - Acabamento: Final

Olá!
Feito o TT, comecei a lixar pra dar acabamento. A faca foi presa numa tábua com para fusos. Comecei pela lixa 50, sem forçar demais, para não deixar marcas muito fundas. Passei para a 80, mudando ligeiramente o sentido, para poder enxergar as marcas da lixa anterior. Lixei até sumir todas as marcas da lixa 50. Passei pra 120, lixando até que todos os riscos da 80 sumissem. Não exagerei na força, para não deixar marcas fundas, que são difíceis de tirar depois. Mesmo assim, errei bastante e ficaram alguns riscos verticais. Veja:
Em seguida, veio a parte do encabamento. Na época, eu não tinha ideia de onde achar madeira boa pra isso, bonita e durável. Acabei improvisando com umas talas de canela, usadas em consertos de violões e guitarras. Hoje em dia, tem muita oferta de madeira boa no Mercado Livre e outros fornecedores, como mostrado nesse post: http://ocuteleiro.blogspot.com.br/2016/03/fornecedores-parte-1.html

Para colar as talas, usei epoxi bicomponente, comprada no ML. Os pinos usados foram de latão. O tarugo de latão comprei numa loja de metais, no quilo. Já estou preparando uma postagem com mais fornecedores, onde vai aparecer essa loja e outras opções.

Como não tinha lixadeira nem serra vertical, use a esmerilhadeira orbital, com uma lixa 60 para desbastar os excessos de madeira. Em seguida, lixei, lixei e lixei. :D

O cabo foi lixado até a grana 400. Em seguida passei cera de abelha com carnaúba, dessas que usam os marceneiros para os móveis - acha em lojas de ferragem. Poli um pouco com um meião velho. Hoje em dia, tenho politriz. Na lâmina, passei um bombril. Isso mesmo! O lado verde. Seco e novo. Dá um acabamento acetinado que gosto muito.

Veja como ficou:

Aqui dá pra ver o dorso e a bainha, que fiz com couro de sola. A confecção de bainhas é outra história, toda uma arte separada. Como podem ver, não ficou muito artística, mas funcionou.
Essa faca está guardada na minha coleção. Um dia desses vou mostrar algumas facas e machados que venho colecionando.

Espero ter ajudado, mostrando os passos que dei e os erros que cometi. Geralmente, as dez (10) primeiras facas não ficam muito boas e, às vezes, você acaba jogando elas no lixo de tão ruins que ficam. Os cuteleiros têm uma piada sobre facas ruins: pinta de verde e joga no mato pra ninguém achar ela nunca mais! :D

Abração!



terça-feira, 29 de março de 2016

Minha primeira faca - Parte 3: Tratamento Térmico

Hoje falarei do tratamento térmico feito à época e meu primeiro forno.
Só lembrando: o pessoal do FCA me alertou que o aço inox que eu estava usando não era temperável. Assim, joguei fora e comecei de novo com uma faca em 1070, modelo parecido com o inicial.

Lendo o FCA - Fórum de Cutelaria Artesanal - aprendi muitas coisas. Entre elas como fazer o TT (tratamento térmico) das facas e dicas sobre o forno/forja a ser usado. Havia três escolhas: forja a carvão tradicional, forno a gás e forno elétrico. Acabei escolhendo a forja a gás, pela sua simplicidade e disponibilidade de materiais para sua construção em Belo Horizonte, onde moro.

Para servir de estrutura, usei uma lata de tinta de 20 litros, vazia e limpa. Como isolante, comprei retalhos de manta cerâmica, que fixei por dentro da lata com fios de Kantal, que nada mais são do que as resistências de chuveiro. Usei a mais grossa que consegui numa loja de materiais elétricos. Veja a foto:
Esse foi o primeiro teste. Como queimador (fonte de calor), usei um antigo que eu tinha feito na época que mexia com cerâmica, um queimador atmosférico tipo venturi. Poderia ter usado um maçarico, por exemplo. Veja como fica a forja acesa:
O maçarico/queimador está na lateral esquerda. Dá pra ver o calor batendo na parede oposta interna. O calor deve ser suficiente para esquentar a faca até seu ponto não-magnético. E aí, é bom arrumar um ímã grande, de alto-falante, por exemplo, para testar o momento certo de retirar a faca e mergulhar no óleo.
Coloquei alguns tijolos refratários de churrasqueira para aumentar o isolamento térmico e evitar o contato da faca com a manta.

Como não tinha como medir a temperatura, foi tudo no olhômetro. Coloquei a faca dentro do forno e acendi o maçarico. Esperei a cor da faca chegar no vermelho vivo. Peguei ela com um alicate de pressão - e luvas - e coloquei o ímã em contato com a lâmina para ver se "pegava". Não pegou. Isso mostrava que a cor estava certa e que era hora de mergulhar no óleo!

Eu não tinha óleo de têmpera específico, mas aprendi que poderia usar várias opções, como óleo diesel queimado, água com sal, óleo vegetal. Cada aço tem suas próprias exigências. O aço W2 só é temperável em água. Daí o "W" (Water). Mas o 1070 pode ser temperado em óleo de soja. Assim o fiz. Coloquei cinco litros de óleo de soja num balde de aço velho que eu tinha. Algumas pessoas cortam um tubo de extintor de incêndio ou mesmo usam um tubo de PVC de 200mm. O importante é ter muito óleo, pois ele vai puxar o calor da faca. Se for pouco óleo, vai ficar muito quente e pode inflamar.

 Voltei com a faca para a forja para recuperar o calor perdido no teste do ímã. Quando chegou no ponto, retirei com o alicate de pressão e mergulhei no baldão de óleo. Um cheiro de batata frita impregnou o muquifo todo! Mergulhei a faca toda e fiz movimentos de vai e vem (pra frente e pra trás) para ajudar a resfriar. Quando a faca já estava morna - dava pra tocar com a mão - retirei e limpei o óleo com um pano. Era a hora de testar o endurecimento.

Coloquei a faca numa morsa de bancada e peguei uma lima de enxada. Passei a lima no fio, num ângulo de 30º, mais ou menos. A faca "cantou" e a lima não conseguiu "pegar" no aço. O som da faca bem temperada ao passar a lima é agudo e incômodo - um som fino de metal contra metal. Quando a têmpera não fica boa, a lima arranca aço, lima mesmo! E o som é baixo e grave, de metal mole sendo arranhado. Caso a sua faca não "cante", repita o processo de têmpera, pois não deu certo.

Era a hora do revenimento. Usei um forno elétrico caseiro, desses de assar pão de queijo. O revenimento é pra aliviar as tensões do aço e diminuir a dureza excessiva, que faz o fio da faca lascar. Deixei a faca por uma hora, a 200ºC. Retirei e resfriei no ar. Repeti o processo mais uma vez. Sempre vigiando as cores do aço:
Procure o amarelo palha, esse que aparece com 440ºF (226ºC) na foto. No máximo, até o 500ºF. Nunca chegue no azul! Vai perder o serviço todo.
Obviamente, o termostato do forno elétrico não será tão preciso para mostrar 226ºC. Marque 200ºC no termostato e acompanhe a cor. O revenimento pode ser feito com maçarico também.

OK. Se você chegou até aqui, parabéns! É um grande leitor. E olha que estou resumindo um bocado!

No próximo post, vou colocar como fiz o acabamento, encabamento e as finalizações.

Abraço!







quinta-feira, 24 de março de 2016

Minha primeira faca - parte 2 - jig de desbaste

Obviamente, após o pessoal do FCA apontar o problema da escolha do aço, abandonei a faca e recomecei do zero com outra, dessa vez em aço 1070. Também alterei o modelo um pouco. Ficou assim:

Para desbastar a lâmina da faca usei um jig (traquitana) copiado da internet. Na época, eu não tinha lixadeira, então procurei na net alguma alternativa. Encontrei várias, com usar a esmerilhadeira orbital ou o esmeril mesmo. Não achei interessante, devido à alta velocidade dessas ferramentas Qualquer erro destruiria a faca irremediavelmente. Acabei por escolher um método mais lento, mas muito mais controlável, usando o jig da foto abaixo:

Essa foto não é minha, não lembro onde peguei. Se alguém souber e puder apontar o autor, eu agradeço.
Essencialmente, é um "T" de madeira invertido, com um parafuso de olhal de altura regulável (enrosca, desenrosca) que permite fixar o ângulo de desbaste da lâmina, que fica presa por parafusos ou grampos "C".
A lima, uma murça chata K&F de 12", foi fixada com abraçadeiras num pedaço de ferro de serralheiro redondo, fino o suficiente para passar no olhal. O ferro tem 1m de comprimento.
Tem um vídeo no Youtube que mostra o funcionamento também. O link é https://youtu.be/r9iNDRwwBQQ

Segue uma outra foto com as medidas:





Após o desbaste, lixei até a grana 120 - na época eu achava que isso era o certo. Hoje, antes de temperar, eu só desbasto na lixadeira, usando a grana 50 e pronto. Faço assim pois, após a têmpera, tenho que refazer todo o acabamento novamente. Não vejo vantagem nisso.

No próximo capítulo, vou mostrar o forno usado na época e o processo de têmpera, revenimento e parte do acabamento.

Abraço!





terça-feira, 22 de março de 2016

Bohler N690: Finalização do primeiro teste

Ola. Finalmente, acabei a faca feita com o inox N690. Ficou muito bom, por sinal. E olha que fui só até a lixa 180 e depois passei o BomBrill  ;D



Vamos à ficha técnica e fotos:

Tipo: Utilitária/EDC
Método de construção: desbaste
Material da lâmina: Aço Inox N690 da Bohler
Geometria: full flat
Estrutura: full tang
Cabo: Aroeira
Fixação do cabo: Talas coladas com epoxi,  pinos de 3mm em latão e passador de 5mm em latão
Têmpera: Integral, em óleo de têmpera Kation-Raiden Zeta 80/3
Acabamento: Acetinado ao "Bom Brill" - Scotch Brite Verde

Medidas:

Comprimento total (OAL): 185 mm
Comprimento da lâmina (BL): 95 mm
Largura máxima (BW): 30 mm
Espessura máxima (BT): 2,5 mm

Fotos:








Agora, vou colocar em uso, no dia a dia do meu sítio pra ver se aguenta o tranco!

Abraço!

terça-feira, 15 de março de 2016

Bohler N690: Primeiro Teste - Parte 1

Ano passado, tive o privilégio de participar de uma compra conjunta de aço inox N690 através do FCA - Fórum de Cutelaria Artesanal (Link: http://www.cutelariaartesanal.com.br/forum/index.php).

No carnaval/2016 finalmente tive tempo de testar o aço. O processo é mais complicado que o normal, exigindo um maior controle de temperatura, rampas de aquecimento, óleo de têmpera de qualidade, etc. Não recomendo para o iniciante, mas nada impede que se delicie com o processo!

Cortar a barra foi bem tranquilo. Usei um disco de corte de aço inox e foi bem rápido e limpo.
O desbaste foi tranquilo, poucas fagulhas, mas já notei uma dureza superior ao 420. A lixa sofreu mais.
Até aí, nada demais. Tudo bem padrão. O que mudou foi o tratamento térmico. Só lembrando as medidas da barra: 1000mm X 50mm X 2,50mm. Um pouco fina, o que me atinou para algumas providências para evitar o entortamento da faca.

Para controlar a temperatura usei um termopar do tipo "K", acoplado a um controlador NOVUS:



O forno é esse aqui, legítimo Home Made:


O forno foi insulado com manta refratária e tijolos. Ele é pequeno, o que facilita muito a equalização da temperatura.

A rampa de aquecimento foi a seguinte (com a faca dentro do forno desde o início, o que ajuda a evitar empenamento pelo aquecimento gradual do aço).
  • Pré aquecimento: 649º C - 9:00 às 9:50h - equalizei a temperatura, ou seja, esperei que todo o forno estivesse com a mesma cor/mesma temperatura. Atente à faca, toda ela tem que estar com a mesma cor;
  • Aquecer a 816ºC - 9:53 às 10:14h - equalizei;
  • Aquecer a 1060ºC - 10:20 às 11:17h - equalizei e mantive por mais cinco minutos para enxarcar. Temperatura final. A documentação da Boheler indica 15 a 30 minutos de enxarcamento, mas a faca é muito fina, não precisa tudo isso;
Enquanto isso acontecia, preparei o óleo de têmpera, um Kation Raiden Zeta, aquecido a 60ºC.

Retirei a faca e mergulhei imediatamente no óleo, fazendo movimentos de vai e vem para ajudar a eliminar a barreira gasosa entre o óleo e a faca. Novamente, nenhum sinal de empenamento!
Limpei a faca e a coloquei imediatamente no forno elétrico para revenimento: 200ºC, 2 ciclos de 2h cada.
Entre cada ciclo, resfriei no ar parado.
Não empenou!
Temperada e Revenida
Após o teste da lima (dura!)


Agora, vem os demais testes, acabamento, colocar o cabo e...mais testes!

quinta-feira, 10 de março de 2016

Fontes de Aço

Onde achar aço pra fazer nossas facas? Podemos comprar aço virgem, mas muitos temos acesso a sucata que pode ser reciclada. Segue uma lista de peças e materiais encontráveis até no fundo do quintal ou no ferro velho mais próximo!

Aços de implementos agrícolas - 1080
Discos de arado - 1080
Discos de corte de mármore - 1070
Pontas do arado - 1095
Eixos - 1040
Pistas e esferas de rolamentos - 52100
Lâminas de serra (cintas) - L6
Bits e fresas - M2
Parafusos e ancoragens - 1040
Parafusos com tratamento térmico - 2330
Parafusos para trabalhos pesados - 4815
Comando de válvulas - A6, S7
Cinzéis - O2, O6, L6
Molas do conjunto de embreagem - 1060
Molas espirais de veículos leves - 4063
Molas espirais de veículos médios (pickups) - 5160
Feixes de molas - 1085, 5160 (kombi, fusca, willys)
Aço trabalhado a frio (cold-rolled) - 1070
Girabrequins - 1045
Brocas de aço rápido (HSS) - M2
Limas Antigas- W1 ou W2 (temperar em água) (Não se usa mais. Use óleo diesel)
Alavancas de câmbio - 1030
Engrenagens de câmbio - 3115
Martelos - L6
Pontas de martelete demolidor - S5
Facas para máquinas - M2
Facas para trabalho em madeira - O2
Arruelas de pressão - 1060
Machadinhas - L6, S2
Lâminas de cortador de grama - 1085
Toca-pinos e punções - L6
Ferramentas pneumáticas (pontas) - L6, A6, S7
Punções para trabalho a frio - A2, O2
Chaves de fenda - L6, S2
Chaves de estria e de boca - L6, S2
Mola de relógio - 1095
Parafusos dos braços de direção - 3130
Braços de direção - 4042
Machos - M2, O2
Molas das válvulas de admissão - 1060
Dica do Maurício Mesquita:
Serra de fita da marca Bohler-Uddeholm-Sweden,
aço 15n20,amplamente usado em damascos (o mesmo de sabres de moto-serra)

Se alguém souber de mais algum, coloca aí nos comentários!

terça-feira, 8 de março de 2016

Minha primeira faca: materiais, ferramentas e sequência - parte 1

Todo mundo já passou pela construção da sua primeira faca e todas aquelas dúvidas "miserentas": onde arrumo aço? Como vou cortar? Qual o desenho da faca? Que ferramentas vou usar? Qual é o passo a passo?
É tanta coisa, que muitas vezes a gente "trava nas quatro". Vou contar aqui como foi a minha "primeira vez", inclusive os erros que cometi. Todo o passo a passo, até chegar lá. Por isso, dividi em partes, pois foi uma verdadeira Odisseia!
Aviso: Sempre que possível, vou tentar dar os créditos às pessoas que me ajudaram. Se esquecer de alguém, me perdoe e me avise, que incluo nas postagens seguintes. E quem preferir não ser citado, por favor, me avise, que será removido.

Comecei errando (esse foi meu primeiro post no Fórum de Cutelaria Artesanal):

"Enfim, minha primeira faquinha. Li o fórum, peguei apostilas, etc. Usei apenas material que eu já tinha no meu muquifo. Nunca fiz uma faca antes, mas estou gostando do processo. Claro, optei pelo mais simples, pois sei que cometerei duzentos mil erros! O aço que eu tinha era uma chapinha da 430 (sei que não dá têmpera - hahaha!) e cortei com minha Dremel. Usei as limas reta, meia-cana (murça as duas) e lima-faca pequena. Agora vou partir pro fio e polimento, que revenir 430 é inútil também. Estou estudando o cabo e a bainha. Algo vai sair! É isso, só pra dar notícia."

A primeira orientação recebida do Yuri Alexandre:
"Ô Bittner, mas usar um aço que não dá têmpera? ::)
Tanta mola de Kombi dando sopa por aí? doida prá levar um "esquenta".
De qualquer forma, o modelo parece interessante."

O que fiz errado: escolhi um aço que não dava têmpera - o inox 430. Se tivesse usado o 420, não teria esse problema.
O que fiz certo: escolhi um modelo de faca simples e elegante, fácil de fazer, mas bem legal.

 1º passo: escolha um modelo de faca. Desenhe no papel e recorte um molde de papelão grosso, como visto na foto - o molde deve ser rígido;
2º passo: ache um aço temperável, mesmo que reciclado, como é o caso das molas de Kombi (5160), discos de arado, serra fita, facão Tramontina, etc. Num próximo post, vou informar algumas fontes de aço temperável. Se o aço for reciclado, lembre de recozer, ou vai ficar duro demais pra trabalhar com ferramentas simples. Tem um post sobre isso aqui;
3º Arrume as ferramentas que vai usar. Ponha tudo perto de você, organizado, num local onde possa trabalhar em paz;
4º Arrume EPI - Equipamento de Proteção Individual. Eu tinha na época: luvas de raspa, óculos, avental de raspa, máscara contra pó (de papel, azul, com filtro) e protetor de ouvidos;
5º Coloque o molde no aço, desenhe com o marcador e marque o local dos furos;
6º Recorte o aço, o mais próximo possível do molde;
7º Lime as rebarbas, pra ficar certinho;
8º Faça os furos.
Finalizando essa parte: Eu usei a Dremel para cortar, mas uma esmerilhadeira angular com disco de corte fino (inox) seria melhor. Se não tiver nada disso, use uma serra de metal. Existem outras maneiras de cortar, procure no Youtube que acha de monte!

Na próxima parte, vou mostrar como desbastei a lâmina.





terça-feira, 1 de março de 2016

Fornecedores - Parte 1

Achar fornecedores para cuteleiros é muito difícil no Brasil e, quando acha, os preços costumam ser altos, para dizer o mínimo. Aos poucos, consegui uma lista de empresas e pessoas físicas que fornecem produtos de qualidade a preço justo. Quando existente, coloco o link da empresa, mas a maioria tem seu contato pelo Whatsapp ou email. Nos casos onde já comprei, eu dou minha opinião junto ao link.
  • Maxime Ferrum (Novidade!): Fornecedor de aço, tem um grande interesse em vender para os cuteleiros, inclusive fechando compras específicas para nos atender. Ótimo atendimento. Valor mínimo para compra (hoje) é de R$ 100,00. Despacham para todo o Brasil. Vendem 58CrV4, 15N20, 1090, O1, D6, N690. Nesta data estavam pra negociar um lote de 440C.

    Contato: Synesio (12) 99131-9669 - www.maximeferrum.com.br
    synesio@maximeferrum.com.br
    www.facebook.com/maximeferrum/
  • Madeiras Guarim (Excelente):  Já comprei e recomendo. Só madeiras lindas para cabos de facas, machados, etc. (67)9268-3000 - tem Whatsapp - manda para todo o Brasil. Contato: Guarim
  • Scarparo Couros (Excelente): (11) 99655-7091- tem Whatsapp - O melhor preço que já achei pra qualidade oferecida. Soleta com a flor linda e carnal parelho. Tem outros couros, inclusive resinados.
  • Carimbos Colombo (Excelente): Já comprei e recomendo. Ótimos carimbos para couro. Desenvolve o desenho que você quiser em vetorial, inclusive a partir de foto. (11)96975-1477 - tem Whatsapp
  • Trein Facas, do Edmundo Trein (Excelente): Referência nacional para quem quer comprar os produtos da Tandy Leather (groovers, desquinadores, etc.), madeiras importadas, estampos, lâminas avulsas, micarta, G-10, tintas importadas, etc. - http://treinfacas.loja2.com.br/
  •  Globaltec (Excelente): Cunhos para marcar facas (logo do cuteleiro) e estampos personalizados. Meu cunho fiz com eles e ficou espetacular. Recomendo. (54) 9971-8973 - tem Whatsapp. Contato: Bruno.
Um exemplo da madeira do Guarim (Peroba rosa de forquilha):



segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Geral sobre TT e mais algumas definições

O Tratamento Térmico das facas consiste, basicamente, em quatro fases, nem todas obrigatórias:

1- Recozimento (Annealing)
2- Normalização (Normalizing)
3- Têmpera (Quenching/Hardening)
4- Revenimento (Tempering)

Ao escrever essas notas, tenho em mente um aço-carbono padrão, como o 1070 ou 5160.

1- Recozimento: só uso em aços reciclados, como limas, discos de arado, facão, tesoura de tosquia ou de jardinagem, etc. NUNCA uso em aço virgem - o mesmo já vem recozido de fábrica;

Consiste em amolocer o aço, tirar a têmpera, para poder usinar a faca com facilidade. Para isso, aquecer o aço até a temperatura não-magnetica e resfriar lentamente. Eu aqueço e embrulho em manta cerâmica. Deixo no forno bem tampado até o dia seguinte. Algumas pessoas misturam areia com carvão moído (70% areia + 30% carvão) e deixam o aço lá, bem enterrado, até o dia seguinte;


ATENÇÃO: Se a faca (feita com aço temperado) foi usinada sem recozer, nem normalizar,  e foi sendo resfriada em água durante a usinagem, provavelmente ela não destemperou. Assim, não precisa temperar! Faça o teste da lima. Se der certo, é só acabar a peça!

2- Normalização: serve para tirar as tensões do aço e diminuir o tamanho dos grãos. Quanto mais fino o grão, melhor. Aqueço um pouco acima do ponto de desmagnetização e esfrio no ar, movendo a tenaz. Não coloque sobre superfícies frias, como outro metal, por exemplo. Só trabalho na faca quando o aço está suficientemente frio para ser tocado. Uso sempre com aço reciclado e, às vezes, com aço virgem quando faço facas forjadas (após bater nelas!);

3- Têmpera: Após usinar a faca, fazer todos os furos, etc. O objetivo é endurecer o aço. Basicamente, o processo é o seguinte: Antes da têmpera,o aço é formado de perlita (ferrite), uma forma de aço "natural", "virgem". Nessa forma, o aço é mole, fácil de limar, cortar e furar. Por isso mesmo, não pega fio. O ideal é saber qual o aço que estamos usando e obter o tratamento térmico padrão para ela na internet ou livros. Caso não saiba, use o tratamento padrão descrito aqui.

- Aquecer o aço na forja até a temperatura em que ele desmagnetiza. Teste com um ímã forte (de alto-falante grande, por exemplo). O aço deve estar com a mesma cor por inteiro. Nesse momento, ele atingiu a FAIXA CRÍTICA, passando pelo PONTO DE DECALESCÊNCIA e o ferrite virou AUSTENITA;

- Se deixar resfriar normalmente, o aço irá passar pelo PONTO DE RECALESCÊNCIA e voltará a ser ferrite mole. Em vez disso, vamos resfriar bruscamente o aço;

- Pegar a faca e colocar no óleo pré-aquecido a 60-70ºC. Se o tipo de aço permitir (W2, por exemplo) pode resfriar em água. Mergulhar rapidamente a faca inteira, na vertical (cuidado com a fumaça);

- Faça movimentos pra frente e pra traz (como se fosse cortar). Isso impede a formação de uma camada de gás entre o óleo e o aço, o que atrapalharia o resfriamento e, consequentemente, a têmpera;

- Quando a faca tiver esfriado ao toque, limpe o óleo com papel toalha ou um pano e coloque no forno elétrico para revenir.

O resfriamento rápido transforma a AUSTENITA em MARTENSITA. A faca fica muito dura, mas muito quebradiça. É necessário "relaxar" a faca, diminuindo a dureza para ganhar elasticidade e tenacidade. É a hora do Revenimento.

4- Revenimento: Consiste em diminuir a dureza excessiva da têmpera, para obter tenacidade e elasticidade. Sem isso, a faca quebra ao menor esforço. Fica como vidro!

- Coloque a 200ºC por 1 hora e deixe esfriar dentro do forno. Alguns aços pedem dois ciclos de 200ºC, de uma hora cada (5160, por exemplo). Nesse caso, coloque 1 hora a 200ºC, desligue o forno,
deixe esfriar naturalmente e repita o processo.

TESTE DA LIMA: Passe uma lima na faca revenida, no fio, num ângulo de 30º. A lima deve escorregar sem arrancar material. Se arrancou material (limou) a têmpera não funcionou! Se a lima "pegou" apenas em alguns lugares e escorregou em outros, a têmpera foi incompleta. Não funcionou!

Existe uma tabela (em PDF) bastante completa em www.favorit.com.br com o tratamento térmico de vários aços, inclusive inox.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Sobre o Fórum de Cutelaria Artesanal - FCA

Hoje o link da sorte é o do FCA - Fórum de Cutelaria Artesanal. O maior fórum do assunto no Brasil e, provavelmente, da América Latina. A seção voltada aos iniciantes é aberta ao público em geral - é pra lá que vai o link. De vez em quando, eles abrem espaço para novos membros. Você pode tentar a sua sorte! Mas atenção: o FCA é um lugar de gente séria, a maioria antiga na área e até bem famosa nas redes sociais. Seja educado e pesquise antes de perguntar. Boa caçada!

http://www.cutelariaartesanal.com.br/forum/index.php?board=112.0

Alguns assuntos abordados:

- O básico em ferramentas para o iniciante;
- Confecção de cabos;
- Começando na Cutelaria Artesanal;
- Básico de Tratamentos Térmicos

E muito, mas muito mais. Leia, pratique, melhore!

Aproveitando: Nos dias 06 e 07 de agosto de 2016, acontecerá a V Feira Anual de Cutelaria Artesanal de Sorocaba - F.A.C.A.S. Veja a programação nesse link do Facebook: https://www.facebook.com/www.facas/?fref=ts
Ou aqui, no Blogspot: 5facas.blogspot.com.br

TT do aço inox 420

Quase todo cuteleiro sonha em ter acesso ao famoso aço inox 440c para fazer facas. O fato é, que o 440c é bem fraquinho! Ele não atinge um alto grau de dureza. Ficou famoso por causa das facas comerciais do século passado. Hoje, no primeiro mundo, o xodó é o aço inox 154CM, fabricado pela Crucible, nos EUA. Por aqui, em termos de inox, o mais comum é o 420, usado em facas de cozinha e alguns itens de cirurgia. Não é grande coisa, atinge 52, 54 HRC no máximo, mas é fácil de achar. Eu fiz uma batelada de testes nesse aço para definir o melhor TT (Tratamento Térmico) possível. Segue o procedimento para quem quiser fabricar alguns canivetes e facas de culinária, exceto cutelos para corte de ossos - não recomendo nesse caso!


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Algumas definições básicas

Para podermos conversar, precisamos de uma linguagem em comum, onde os termos usados sejam claros, sem margem a interpretações - "achismos". Aos poucos, vamos construindo um dicionário que facilita a troca de ideias. Só alguns termos de cada vez, ok? Nada maçante :D

Em cutelaria, alguns atributos do aço e da faca estão sempre em evidência e todos querem mostrar esses atributos, mas, o que eles significam? Termos como dureza e tenacidade precisam significar a mesma coisa para todos. Vamos lá?

Dureza (Hardness) - Refere-se à capacidade de resistir a penetração. Pode ser percebida facilmente ao atritar um material no outro. O material mais duro irá riscar o mais macio. O método científico consiste em usar um aparelho chamado durômetro, sendo o da marca Rockwell o mais conhecido, para testar o material. Em metalurgia, o aparelho usa uma escala chamada Rockwell C, onde uma ponta de diamante é pressionada sobre o metal, medindo a penetração. Essa escala vai de 20 a 68. Note que ela é relativa a uma amostra padrão fornecida pelo fabricante. Uma faca comum costuma ter dureza entre 59 HRC e 64 HRC, mas nada impede que seja menor ou maior. 

Tenacidade (Toughness) - É a habilidade do aço de resistir à ruptura, à quebra. Tenacidade é uma medida de quantidade de energia que um material pode absorver antes de fraturar. A tenacidade é conseguida ao custo de menor dureza. Não se pode ter o máximo de ambas numa
faca. É sempre um ato de compromisso.

Resistência ao desgaste (wear resistance) - Esta propriedade é a que dá às facas seu poder de retenção do fio. É o poder de suportar a abrasão.

Pronto, acabou! Por enquanto. Sempre que possível, irei mostrar os termos equivalentes em inglês, para ajudar quem procura referências em outras línguas.

Mais um blog de cutelaria?

Sim e não.
Sim, mais um blog de cutelaria, com fotos de facas, bainhas e equipamentos.
Não, pois o objetivo maior é transferir conhecimento. Indicar outros blogs com conteúdo. Ensinar alguma coisa, ao invés de vender alguma coisa.
Metalurgia básica, tratamento térmico, aços, fornecedores de aço, couro, ferramentas. Dicas e truques.
Enfim, coisas da vida real, que os cuteleiros realmente fazem em suas oficinas. Toda a poeira, limalha, suor e sangue da batalha diária de quem "mexe com ferro", o sujeito comum que se esforça pra fazer uma faca de qualidade.
Esse é um blog sem pretensões artísticas, sem belas fotos cheias de filtros, sem idolatria por este ou aquele personagem. Sem ego. Pé no chão.

Aproveite.

Já dou a primeira dica: siga o Berardo Facas Custom e seu curso "Uma faca do início ao fim" no link
http://berardofacascustom.blogspot.com.br/

Muito bom!